Como gostamos de acumular bens! Trabalhamos para ter mais. Vale a pena? Talvez. Certamente até o limite de se poder viver dignamente, mas também se colocando a serviço dos outros. Se não vira egoísmo puro. É diferente de correr atrás de bens desenfreadamente em busca do prazer de se ter ou de se conseguir uma boa herança.
Abundância. Enquanto Jesus pregava à multidão, alguém lhe disse: "Mestre, diz a meu irmão que reparta comigo aherança" (Lc 12,13). Por que este apelo inesperado do ouvinte anônimo? Porque era costume, em casos de disputa de herança, recorrer aos rabinos. Jesus aproveita a oportunidade da pergunta e exorta sobre o desapego dos bens terrenos.[1] "Cuidai e guardai-vos de toda cobiça, porque a vida de alguém não está na abundância dos seus haveres" (Lc 12,15). Não está?
Menos apego. Jesus alerta a entesourar, não tanto para a vida presente, mas para a futura, pois os bens temporais são efêmeros. Não passam daqui para o reino dos céus. Já pensou nisto? É preciso deixá-los e investir em bens duradouros, os espirituais. Por outro lado, você pode estar se perguntado: "A vida aqui na terra não nos foi dada para ser gozada?" Sim, mas não só. Foi-nos dada também para fazer boas obras e exercer a benevolência. "Doar bens?" indaga você. Doar. Quem distribui do que é seu, por amor de Deus, torna-se rico diante dele. É uma doação que volta. Fora dos bens espirituais, nada permanece.
Tudo é vaidade. Como tal, qual o benefício de acumular esses bens, se a pessoa vai deixá-los? Será que é uma generosidade para com os outros ou uma vaidade? É apenas uma vaidade, segundo a Escritura Sagrada. É vaidade eum grande mal (Ecl 2,21). Quanto mais se adquire, mais se coloca adiante o limite de possuir. Busca-se sempre mais. Insensatez, pois as coisas que ajuntamos de quem serão? "Mas Deus lhe diz: 'Tolo! Ainda nesta noite, tua vida teserá tirada. E para quem ficará o que acumulaste?" (Lc 12,20). Paradoxal.
Como as coisas seduzem! Nossa afeição se derrama sobre elas. Queremos as coisas do alto, mas também queremos as coisas da terra. Como resolver o dilema? São Paulo resolve da seguinte forma: "1 Se, portanto,ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. 2 Afeiçoai-vos àscoisas lá de cima, e não às da terra!" (Cl 3,1-2). Ensinamento que contraste em nossos dias.
Há que se trabalhar a atitude interior. De que forma? Usando as coisas da terra para se ter uma vida digna, mas valorizar mais a conquista do amor, da compreensão, da paz interior. Não esquecer a caridade. Trabalhar para praticar a caridade, para compartilhar. Neste caso, quanto mais se compartilha, mais se acumula… para levar ao reino.
É assim, acumulando estes bens, que abdicamos de acumular inutilidades. Passamos a compor uma boa herança: a herança eterna.
Eu diante da Palavra
Tudo é vaidade
2 Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade.
21 Que um homem trabalhe com sabedoria, ciência e bom êxito para deixar o fruto de seu labor a outro que em nadacolaborou, note-se bem, é uma vaidade e uma grande desgraça (Ecl 1,2)
Caminho para esta desgraça?
Juntar bens
20 Deus, porém, lhe disse: Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma. E as coisas, que ajuntaste, de quemserão? (Lc 12,20).
Trabalho mais para ajuntar bens que perecem ou que não perecem?
Buscar coisas do alto
1 Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus.
2 Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra (Cl 3,1-2).
Qual o tamanho de minha afeição às coisas divinas?
Minha prece
Vós fazeis voltar ao pó todo mortal
quando dizeis: "Voltai ao pó, filhos de Adão!"
Ensinai-nos a contar os nossos dias
e dai ao nosso coração sabedoria!
Saciai-nos de manhã com vosso amor,
e exaltaremos de alegria todo o dia!
Que vossa bondade repouse sobre nós e nos conduza!
Tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho.